Infância Urgente

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A moda preocupante das pulseiras do sexo

Leilane Menezes

Publicação: 11/04/2010 08:51
Uma nova moda entre jovens, e até crianças, invadiu as escolas e as ruas do Distrito Federal e causa preocupação em pais, educadores e polícia. É possível saber qual é a disposição de algumas pessoas para o sexo ao olhar pulseiras usadas por elas. Parece inacreditável, mas é verdade. Meninos e meninas de todas as idades vestem adereços coloridos feitos de silicone, conhecidos como pulseiras do sexo. Cada cor indica uma prática à qual quem está com o adorno se dispõe. Os significados vão de um simples abraço a relação sexual. A regra da brincadeira é clara: quem consegue romper a liga ganha o direito de receber o ato indicado por ela.

O adorno amarelo, por exemplo, é a senha para abraçar, o roxo dá direito a beijar com a língua, o azul significa que a menina faz sexo oral e o preto indica sexo, para citar alguns . O código é amplamente conhecido e divulgado entre os adolescentes.

Para muitos, essa moda não passa de uma brincadeira. "Não é porque a gente usa que vai fazer sexo. Na minha escola ninguém leva a sério", disse um adolescente de 16 anos que estuda na rede pública, na Asa Sul. Porém, um amigo dele, de 15 anos, relata que há festas nas quais os jovens brincam de Snap - nome do jogo no qual são usadas as pulseiras. "No colégio, não tem seriedade. Mas a gente faz festinhas depois da aula, aí a coisa fica quente. Se arrebentar a pulseira, tem que rolar", afirmou.

Sem ocorrências

A Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) recebe diversos telefonemas, todos os dias, de pais preocupados com os riscos que os filhos podem correr ao entrar nessa moda. Nenhuma ocorrência relacionada ao uso da pulseira foi registrada. "Essa brincadeira tomou uma proporção muito grande. Não podemos proibir, não há argumento legal. Mas os pais devem conversar muito com os filhos antes de comprar essa pulseira, que pode atrair pedófilos e outros dispostos a abusar de adolescentes", alertou a delegada-chefe Alessandra Figueiredo.

A ideia de relacionar pulseiras a sexo nasceu no Reino Unido, há mais de uma década, como uma brincadeira entre adultos em casas noturnas. No Brasil, a mania começou no fim de 2009 e ganhou, principalmente, os pátios dos colégios. Em uma escola particular de Taguatinga Norte, frequentada por crianças e adolescentes de classe média, dezenas de meninos e meninas dos ensinos fundamental e médio usam o acessório. Um garoto de 10 anos desfila com a cor vermelha no pulso, que indica uma lap dance, um tipo de dança erótica. Assim como ele, outras crianças passeiam com o adereço no pulso.

Diretoria e professores se mobilizaram para orientar os estudantes. "Recortamos reportagens sobre o tema e colamos nos murais da escola. Orientamos os alunos sobre o que cada cor significa. Não sabemos até onde tudo isso é verdade, então não proibimos. É um serviço de orientação. A partir do momento que começamos a falar sobre isso, o número de alunos que usava diminuiu bastante. A grande maioria não sabia o que significava. As meninas, principalmente, ficaram horrorizadas", explicou a diretora Norma Soares.

A cena se repete em um colégio público da Asa Sul, onde uma menina de 14 anos usa 83 pulseiras. Nos braços dela está o sinal verde para práticas sexuais. "Já quebraram umas 10. Os meninos tentaram pegar em mim, mas eu bati neles e eles desistiram", afirmou a adolescente. "Minha mãe fala que posso usar, mas não devo fazer o que as pulseiras indicam. Antes eu usava mais. Fiquei com medo porque rolam umas histórias de que as meninas são estupradas por vestirem isso", opinou uma estudante de outro centro de ensino.

Uma garota de 15 anos disse ter queimado as pulseiras depois de descobrir o que elas sugeriam. "Eu ganhei de presente de uma amiga, depois comprei algumas. É normal trocar entre amigos, nas escolas. Para mim não era nada demais, mas hoje morro de medo. Minha mãe me pagou muito sapo", contou. A Secretaria de Educação do DF informou que não pretende proibir o uso das pulseiras, mas enviou uma circular a todas as escolas com informações sobre o assunto.

Comércio

Os pontos de venda das ligas são variados: vão de camelôs a lojas convencionais. Há até comércio ambulante na porta de algumas escolas. As pulseiras vêm em um pacote de plástico comum, sem nenhuma indicação de como "brincar" ou sobre o fabricante. A embalagem com 10 unidades de cores variadas custa entre R$ 1 e R$ 2. A peça única sai por até R$ 0,30. Cleonice Alves, 39 anos, comercializa o acessório na Feira de Ceilândia. "Já ouvi falar que foi até proibido. Mas isso é uma pulseira e não um preservativo, não tem nada a ver com sexo. O que induz ao ato é a consciência de cada um", acredita.

No início do ano letivo, o Batalhão Escolar da PM promoveu encontros com os pais e professores para alertar sobre os perigos dessa moda. A corporação chegou a se manifestar sobre o assunto e distribuiu fôlderes educativos em fevereiro. À época, o antigo comandante do policiamente escolar, tenente-coronel Marcos de Araújo, informou em entrevista divulgada pela Secretaria de Educação do DF que, "às vezes nem o próprio adolescente tem idéia da dimensão de usá-las e, mesmo sem ter a intenção, ele pode incitar um comportamento agressivo ou inadequado contra ele próprio, seja por parte de alguém que também usa a pulseirinha, seja por parte de alguém que conheça o seu significado".

Virtual

Os jovens, por meio de redes sociais, compartilham mais do que informações sobre a pulseira. Dividem também experiências sexuais. O Orkut tem pelo menos 11 comunidades dedicadas aos usuários desse enfeite. A mais frequentada contava com 152.965 participantes, até a última terça-feira. Três dias depois, na sexta-feira, tinha 153.297 adeptos. Mais de 800 membros afirmam morar no DF. Há crianças e adultos entre os perfis mostrados. As outras comunidades têm entre 2 mil e 130 mil participantes. Nos fóruns de discussão, os participantes comentam a serventia das pulseiras e aproveitam para fazer amigos que também aderiram a essa moda.

Alerta

Branca: a menina escolhe o que fazer

Azul: sexo oral a ser praticado pela menina

Vermelha: dança sensual

Laranja: mordida no pescoço

Amarela: abraço

Rosa: mostrar o seio

Roxa: beijo de língua

Verde: sexo a ser praticado pelo rapaz

Preta: sexo

Dourada: vale tudo

Fonte: Correio Braziliense

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