Infância Urgente

terça-feira, 25 de novembro de 2008

18 anos do Fórum Estadual de Defsa dos Direitos da Criança e do Adolescente



Nos árduos anos que iniciava o processo de abertura em nosso país, vários militantes e trabalhadores da área da infância, se juntaram para começar a pensar que projeto queríamos para os nossos meninos e meninas! Enquanto boa parte do país, e de muitos militantes de esquerda ansiavam pelas mudanças que viriam, esse grupo além de desejar essas mudanças, colocava-se a esboçar as nossas intenções com aqueles que continuariam a história do nosso povo.

Foi assim, que criou-se um espaço de participação democrática, onde tod@s podiam opinar à respeito de tudo e em especial sob que sociedade desejaríamos para a infanto-juventude pós anos de trevas!

Surgiu dai,o Estatuto da Criança e do Adolescente, lei que absorveu tudo que de melhor tinha no pensamento humano, anunciando grandes propósitos para o nosso povo.

Passado 18 anos da aprovação da lei, colocamos o debate sobre a situação das crianças e adolescentes em pauta, infelizmente não avançamos muito, ainda não existe a compreensão, de que a criança deve ser o segmento a mobilizar as melhores energias da sociedade para que possa ter todos os seus direitos atendidos, porém, ainda existe um grupo de pessoas que ousam nadar na contra mão , brigando, debatendo, propondo e fiscalizando para que o desejo de vê uma infância plena se realize.

Parabéns Fórum estadual de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de São Paulo! 18 anos de coerência e LUTA!

Resolução

(poema de Brecht sobre a Comuna de Paris)

Considerando nossa fraqueza os senhores forjaram
Suas leis, para nos escravizarem.
As leis não mais serão respeitadas
Considerando que não queremos mais ser escravos.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e com canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.
Considerando que ficaremos famintos
Se suportarmos que continuem nos roubando
Queremos deixar bem claro que são apenas vidraças
Que nos separam deste bom pão que nos falta.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria que a morte.
Considerando que existem grandes mansões
Enquanto os senhores nos deixam sem teto
Nós decidimos: agora nelas nos instalaremos
Porque em nossos buracos não temos mais condições de ficar.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.
Considerando que está sobrando carvão
Enquanto nós gelamos de frio por falta de carvão
Nós decidimos que vamos tomá-lo
Considerando que ele nos aquecerá
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.
Considerando que para os senhores não é possível
Nos pagarem um salário justo
Tomaremos nós mesmos as fábricas
Considerando que sem os senhores, tudo será melhor para nós.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria que a morte.
Considerando que o que o governo nos promete sempre
Está muito longe de nos inspirar confiança
Nós decidimos tomar o poder
Para podermos levar uma vida melhor.
Considerando: vocês escutam os canhões
Outra linguagem não conseguem compreender
Deveremos então, sim, isso valerá a pena
Apontar os canhões contra os senhores!

Audiência Pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa



Convidamos todos e todas para Audiência Pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa
que acontecerá dia 27/11 (quinta-feira) - às 14:30h - Plenário Teotônio Vilela - 1º andar.

Pauta:

1. Definição do ganhador do Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos

2. Reintegração Social Penitenciária.
Atenciosamente,
Dep. Est. José Candido

Dia 01/12/2008 às 14hs na Assembléia Legislativa de SP

PELA ABERTURA DOS ARQUIVOS MILITARES.
PELA LOCALIZAÇÃO DOS CORPOS DOS DESAPARECIDOS POLÍTICOS.
PELA RESPONSABILIZAÇÃO DOS CRIMES DE LESA HUMANIDADE.

A tortura e desaparecimento de militantes políticos praticados por agentes do estado são crimes de lesa humanidade e portanto imprescritíveis e não passiveis de anistia. Julgar estes crimes praticados durante a ditadura militar 1964-1985 é um passo importante para que a justiça de transição seja feita em nosso país, no sentido de afirmar: Terrorrismo de Estado Nunca Mais!

PARTICIPAÇÃO
Associação Juízes Para a Democracia - AJD
Associação dos Anistiados Políticos, Aposentados, Pensionistas e Idosos do Estado de SP - ANAPI
Central Única dos Trabalhadores- CUT
Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos
Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo
Coordenação Brasileira de Anistia - CBA
Fórum dos Ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo
Grupo Tortura Nunca Mais - SP
Ministério Público Federal - MPF
Ordem dos Advogados do Brasil - OAB
União Nacional do Estudantes - UNE

CONVIDADOS
Secretaria Especial de Direitos Humanos - Ministro Paulo Vannuchi
Comissão de Anistia do Ministério da Justiça - Dr. Paulo Abrão

REALIZAÇÃO
Deputado Estadual Simão Pedro Chiovetti - PT/SP
Deputado Federal Paulo Teixeira - PT/SP

APOIO
Deputados Adriano Diogo (PT/SP) e Rui Falcão (PT/SP)

Politica nazista para criança legitimada na cidade de São paulo.


"Prefeitura de SP vai à Justiça para tirar crianças e adolescentes da rua...".
Cinthia Rodrigues, Diário de S.Paulo

SÃO PAULO - A Prefeitura de São Paulo buscará na Justiça autorização para
obrigar crianças e adolescentes em situação de rua a irem para abrigos. A medida
foi usada para retirar adolescentes que viviam em uma passarela no Vale do
Anhangabaú, no centro, na semana passada, mas dos 16 retirados 13 já voltaram
para a rua. A Secretaria de Assistência Social afirma que tem ordem judicial
para mantê-los fora das ruas e eles serão levados novamente a abrigos caso sejam
encontrados.

Entre julho e setembro do ano passado, um levantamento da Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas (Fipe) cadastrou 1.842 crianças e adolescentes nas ruas.
Algumas apenas esmolavam ou trabalhavam e voltavam para a casa, mas 66% (1.215)
acabavam dormindo ao relento.

O primeiro alvo das ações deverá ser a Cracolândia, na região da Luz. O
secretario Municipal de Assistência Social, Paulo Sérgio de Oliveira Costa,
afirma que há 20 pontos da cidade onde a Prefeitura pretende pedir autorização
judicial para retirar crianças e adolescentes.
Os menores retirados do Anhangabaú viviam há três anos dentro da passarela que
passa sobre a Avenida 9 de Julho e o Terminal Bandeira. Na última sexta-feira, o
juiz da Vara da Infância, Adalberto Camargo Aranha, julgou procedente o
requerimento da Prefeitura.

Retirados das ruas, crianças e adolescentes são obrigados a ir para Centros de
Referência da Criança e do Adolescente (Crecas). Como não se trata de um local
de internação, não há sistema de segurança.
- Eles saem, pulam o muro e vão para outro lugar - diz o coordenador das equipes
de assistência na rua, Walan Marques dos Santos.

As crianças apreendidas devem ser levadas aos Crecas e ali permanecer até que a
Justiça decida o destino de cada uma. Elas podem ser devolvidas às famílias,
levadas para abrigos definitivos ou até para a Fundação Casa (ex-Febem) caso
tenham cometido algum delito.

Para o secretário, a situação de risco dos menores é a mesma dos ex-moradores da
passarela no Vale do Anhangabaú.
- Não existe diferença nenhuma. A maioria das crianças que estão na rua se
recusa a ir para abrigos, mas elas não têm que decidir, nem sabem o que é melhor
para elas - afirma.
Segundo o secretário, o cadastro feito pelas equipes de assistência social será
usado para identificar casos crônicos. O mais evidente é a Cracolândia, região
da Luz conhecida pelo consumo de crack.
- Não é tolerável deixar crianças no meio de adultos consumindo crack - diz.
Dos moradores da passarela, a maioria foi para outros endereços. Nesta segunda,
uma ex-moradora da passarela - que tem 18 anos, está grávida e continua nos
arredores do Anhangabaú - disse que a maioria voltou para a região depois de
fugir dos Crecas.
- Eles não agüentam ficar sem a cola - diz.
A passarela onde crianças e adolescentes viviam há três anos ficou conhecida
depois de um incêndio causado pelo uso de velas no início do mês. Depois que os
bombeiros apagaram as chamas, os menores voltaram a viver no local escuro, cheio
de ratos e sujeira.
A Prefeitura fez um requerimento à Justiça para retirá-los de lá. Agora, há
pedras no buraco por onde as crianças entravam e dez seguranças particulares
contratados pelo Metrô fazem a segurança de uma área vizinha à passarela por
onde os adolescentes pulavam para entrar. Duas equipes da Secretaria de
Assistência Social também fazem plantão no local.
Para ONG, deve haver antes trabalho com família
Para Osvaldo Ataíde Norberto, gerente do Programa Educação na Rua da ONG
Travessia, o poder público deveria procurar primeiro as famílias das crianças
que vão para rua. O programa atua no centro diariamente na tentativa de
convencer as crianças a voltarem para casa.
Norberto concorda que é preciso tomar uma atitude em relação às crianças que
estão vivendo na rua, mas acha que o encaminhamento forçado a abrigos não dá
resultado.
- Acho que realmente eles precisam sair da rua por questões de saúde, educação e
até para não perder os vínculos de família e comunidade, mas a maioria tem
família - diz.
- Se houvesse uma política pública que criasse condições dele voltar para a
família, que apóie os pais, melhore o bairro, eles voltavam - diz.
Falta de estrutura
Na avaliação de Norberto, as crianças fogem da periferia por falta de estrutura.
- São lugares que têm escola, posto de saúde e mais nada. O desamparo começa
pela família que não tem como cuidar da criança.
A ONG deverá discutir ao longo desta semana as ações judiciais que a Prefeitura
começou a adotar.
- Queremos analisar com calma porque questões legais dependem muito de
interpretação. Acho que a tentativa de olhar melhor o problema é válida, só que
se os meninos forem levados à força, não vai dar resultado.

fonte: http://oglobo.globo.com/sp/mat/2008/11/25/prefeitura_de_sp_vai_justica_para_tirar_criancas_adolescentes_da_rua-586542310.asp

Velha/Nova Febem/Fundação Casa 73

Briga entre internos causa tumulto na Fundação Casa em Jacareí
Uma briga envolvendo dois adolescentes causou início de uma rebelião na unidade da Fundação casa em Jacareí.

A briga aconteceu por volta das 16h. Segundo a direção da Fundação Casa, a situação por enquanto está sendo vista como tumulto. E teve início quando um dos jovens que estava no "seguro", uma área afastada, foi agredido pelos outros internos. Ele foi retirado da unidade e está fora de perigo.
Neste momento a direção da unidade esta tentando negociar com os internos para evitar uma invasão da polícia.

fonte: http://www.vnews.com.br/noticia.php?id=39024

Jacareí: menores fazem funcionário refém em rebelião na Fundação Casa

Um funcionário da Fundação Casa de Jacareí foi feito refém na tarde desta segunda-feira (24) pelos menores da unidade.
Segundo a Polícia Militar, o tumulto começou quando um grupo teria invadido uma área isolada da fundação para agredir um outro adolescente. Os menores colocaram fogo nos colchões.
Ainda nesta tarde, a polícia confirmou que o funcionário foi liberado sem ferimentos e que o tumulto foi controlado.

fonte: http://www.vnews.com.br/noticia.php?id=39033

Brasil possui a segunda maior taxa de repetência escolar da AL

A UNESCO divulgará, hoje, monitoramento das metas globais envolvendo 129 países. O Brasil aparece, neste levantamento, com a segunda maior taxa de repetência escolar da América Latina, atrás do Suriname. A taxa brasileira é de 18,7% e a média latino-americana é 6,4% (no Caribe a taxa é ainda menor: 2,9%). Somos o único país da região com mais de 500 mil crianças em idade escolar sem estudar.
Os pragmáticos afirmarão que isto revela que nossos professores não conseguem ensinar. Pode até ser. Mas o importante é entendermos como a repetência não se relaciona, em nada, com aprendizagem. Repetir não estimula em nada. É apenas uma punição. Do ponto de vista pedagógico, é um ato retrógrado.

Do Blog de Esquerda em Esquerda.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

REFÉNS DO ABANDONO: A vida depois da violência sexual 11

Asociedade que protege abusadores e exploradores esconde as vítimas em abrigos — lugares sem placa na porta, afastados do centro das cidades, com horários rígidos e entrada controlada por vigias. Estão mais para colégios internos do que para
casas de família. Mas é ali que as crianças e adolescentes crescem até que a Justiça decida o destino deles. Almoçam em refeitórios coletivos, ficam sem festas de aniversário e esperam os passeios ou licenças especiais para conhecer um pouco do mundo que os cerca.

Na periferia de Manaus, está a Casa Mamãe Margarida. São dois sobrados cor-de-rosa, cercados por muros altos e grades de ferro. Um deles aloja 40 meninas com idades entre seis e 18 anos. Quase todas são vítimas de violência sexual. No outro sobrado,
a instituição realiza atividades pedagógicas para outras 300 garotas em situação de risco.

Apesar da atenção às crianças e adolescentes, a Casa Mamãe Margarida não substitui o fundamental:o convívio familiar.“Abrigo não é bom para ninguém.Por pior que seja a situação das famílias, as meninas sentem falta dos irmãos, dos amigos”, lamenta a irmã Liliana Maria Lindoso, uma das fundadoras da casa assistencial.Para os casos de violência sexual,o ECA prevê duas alternativas anteriores ao abrigamento:a retirada do agressor de casa ou a colocação da criança em uma família substituta. Mas,com 22 anos de experiência no atendimento às vítimas, irmã Liliana diz que essas determinações raramente são seguidas.“No lugar de onde vêm, essas meninas são consideradas garotas-problema, ninguém as quer. Um absurdo, porque elas é que são as vítimas.”

Por causa dessas distorções,o abrigo passa a ser regra, e não exceção. Lá, meninos e meninas vivem em um espaço despersonalizado,com normas de convivência coletiva. Manter a identidade e conquistar autonomia são desafios diários. “Eu não
agüento isso aqui. É chato demais”,diz Bia, 13 anos, que passou boa parte da infância perambulando pelas ruas e praças de Manaus. As meninas que sofreram
exploração sexual infantil têm mais dificuldade para se adaptar às regras.
Outro problema nos abrigos é a institucionalização das crianças e adolescentes. A tarefa de restabelecer laços em uma família atingida pela violência quase nunca é cumprida. Na entidade Raio de Luz, em Belém do Pará,das 40 meninas abrigadas, três
poderiam ser adotadas. “O ECA aposta na reinserção familiar,mas elas vieram de famílias doentes. É muito difícil conseguir que elas voltem para casa em segurança”, desabafa Nahum Freitas, diretor da instituição.

No abrigo paraense, as regras são cumpridas com atenção. Há uma rotina de horários para acordar, almoçar, brincar e tomar banho. No dia em que a reportagem esteve no local, as meninas haviam ido ao dentista e todas estavam com os cabelos presos com os mesmos elásticos coloridos. Na hora do almoço,comiam sem fazer algazarra.Nos quartos, sobre as camas,dezenas de bichos de pelúcia enfileirados davam a impressão
de jamais terem sido usados para brincadeiras.

Oásis no sertão do desamparo

A falta de instituições para abrigar crianças e adolescentes que sofreram violência sexual é um problema em todos os estados brasileiros. Na Paraíba, o Ministério Público e a Justiça não encontram destino para as vítimas. Além de João Pessoa, o
abrigo mais próximo fica em Guarabira, a 100 quilômetros da capital. Lá funciona a Comunidade Talita, instituição coordenada pelo padre italiano Luigi Pescarmona. O local é espaçoso e organizado, tem piscina, área de lazer e vegetação exuberante.
As meninas de 10 a 17 anos chamam o padre de pai. Todas vão à escola e fazem cursos profissionalizantes.

O oásis do padre Luigi é para poucas. Apenas 22 garotas moram no abrigo, que não é exclusivo para vítimas de abuso ou exploração e recebe crianças e adolescentes de vários municípios do estado. “Tem meninas de Mamanguape, Rio Tinto, Mari,Alagoinha, Cuitegi, Capim e Sapé. O telefone aqui não pára de tocar. Ligam juízes, promotores,
mas infelizmente não temos estrutura para receber mais gente”,explica Maria Josiane Alves,funcionária do abrigo e chamada de “madrinha” pelas meninas.

Se abrisse as portas para demandas de todo o estado, o abrigo estaria lotado e perderia a qualidade do atendimento. Renata, de 15 anos, está há sete meses na Comunidade Talita.Antes de chegar ao abrigo, fazia programas e cometia pequenos
furtos para comprar drogas. Por determinação judicial, saiu de casa provisoriamente. Hoje, Renata está adaptada à Comunidade Talita, mas deveria visitar a mãe periodicamente e retomar o convívio familiar. O problema é que a casa da menina fica em Mulungu, município a 300km de Guarabira. Como a cidadezinha natal de Renata não tem nenhum abrigo próximo, ela foi levada para a Comunidade Talita. “Já fui
visitar a minha mãe algumas vezes,mas desanimo porque é muito longe. Prefiro ficar no
abrigo”, conta Renata.

Diante da dificuldade de reintegrar-se às famílias ou de superar os obstáculos para adoção,as vítimas de violência sexual ficam esquecidas nos abrigos.Uma das meninas da entidade Raio de Luz, em Belém do Pará,já está lá há mais de cinco anos.“Por causa da idade, elas já nem poderiam mais ficar aqui. A gente abre exceção porque não há opções de lugar para essas crianças”,afirma o diretor Nahum Freitas. Ele cita o caso de Paula,uma menina de 15 anos que vive ali há seis anos e que, durante
esse período, nunca recebeu visita de parentes. “Outro dia, ela queria se matar. Dizia que ninguém no mundo se importava com ela. O que eu posso fazer?
Me preocupo em dar autonomia,porque a família, ela já perdeu”,afirma

REFÉNS DO ABANDONO: A vida depois da violência sexual 10

Exploração desafia Justiça

Se punir os autores de abuso sexual é um desafio para a polícia e para as entidades de defesa dos direitos da criança, a responsabilização dos exploradores é praticamente inexistente. Os aliciadores e os homens que fazem programa com crianças e adolescentes se valem da posição social e do poder econômico superior ao das vítimas para impedir que os processos sigam adiante. Eles só são presos no caso excepcional de serem flagrados em prostíbulos ou motéis.

A impunidade de um grupo de exploradores sexuais em Minas Gerais motivou um protesto do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes no último 18 de maio. O caso ficou conhecido como “as meninas de 50
centavos”: cinco garotas com idades entre 9 e 12 anos recebiam moedas para fazer sexo com moradores da cidade de Itaobim. Os crimes ocorreram entre 1998 e 1999, a sentença saiu em 2006 e até hoje nenhum dos exploradores foi preso.

Autor da sentença, o juiz Neanderson Martins Ramos conta que,durante o processo, apenas uma das vítimas manteve o depoimento inicial. Na pequena cidade mineira,
circulam boatos de que as famílias das outras meninas foram compradas com cestas básicas para inocentar os agressores.“Dos cinco acusados,consegui sentenciar apenas três. Os depoimentos foram mudando ao longo do processo”, conta o juiz. Os três
condenados, entretanto, apelaram ao Tribunal de Justiça do estado e aguardam nova decisão da Justiça em liberdade.

A lentidão da Justiça também contribui para o sofrimento das crianças e dolescentes. Sem uma prioridade para os casos de abuso e exploração sexual contra meninos e meninas, os agressores ficam livres e fazem das suas vítimas reféns do medo. A presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), Maria Luiza Oliveira, explica que os casos relacionados à infância deveriam
ter prioridade. "Esses processos criminais entram numa fila longa.

A infância passa muito rápido e muitos casos levam mais de 10 anos para serem julgados", reclama Maria Luiza. Dos 27 estados brasileiros, apenas três têm varas especializadas em crimes contra crianças e adolescentes: Bahia, Ceará e Pernambuco. Os dados foram levantados pela defensora pública Hélia Barbosa, que atua em Salvador.
A advogada verificou que a criação de uma vara especializada reduziu em até três vezes o tempo de espera por uma resposta judicial. "Antes os casos ficavam parados por até seis anos. Hoje os julgamentos levam, em média, de um a dois anos."

Como destruir o Planeta!

Tribunal Popular: A luta pela terra dos povos originários

- Negação de direitos, criminalização e genocídio dos Guarani/Kaiowa - MS. Com a presença de lideranças indígenas e representante do CIMI-MS

- TI Serra Raposa do Sol - Lúcia Rangel, antropóloga PUC-SP

- Unidade de conservação de uso restrito na Amazônia Brasileira - Edson Kayapó

Haverá exibição de videos

Dia 25 de novembro, terça-feira, 19hs
Sala dos Estudantes, Faculdade de Direito da USP
Largo São Francisco, São Paulo



A situação de extrema gravidade em que se encontra o povo Guarani Kaiowá de Mato Grosso do Sul será destaque no debate que o Tribunal Popular: o Estado brasileiro no banco dos réus promoverá dia 25 de novembro, na Sala dos Estudantes da Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco da cidade de São Paulo.

Em decorrência da não demarcação das terras dos guarani kaiowá, uma série de problemas vem se agravando como a morte por desnutrição entre as crianças, suicídios entre os jovens, assassinatos e execução de lideranças por jagunços pagos pelo agronegócio, crimes impunes até o momento. A Constituição Federal de 88 determina que as terras indígenas deveriam ser demarcadas em até 05 anos. No entanto, já decorreram 15 anos e só tem aumentado a devastação e as invasões das terras dos guarani kaiowá.

Em 2007, foram assassinados pelo menos 57 indígenas da etnia Guarani Kaiowá em MS, conformando uma taxa de 175 homicídios para cada 100 mil habitantes, acima da taxa da cidade do município de Coronel Sapucaia apontada como a mais alta pelo "Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros" publicado pela ONG Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana em 2007.

O suicídio entre jovens é considerado já uma epidemia. A média entre os indígenas é de 100 mortos para cada 100 mil, enquanto a média nacional é de 4,5 mortos para cada 100 mil pessoas, segundo Ministério da Saúde.

A homologação da reserva Serra Raposa do Sol e unidade de uso restrito na Amazônia brasileira também serão tematizados pelo debate.

O Tribunal Popular: o Estado brasileiro no banco dos réus é uma iniciativa de mais de 70 entidades ligadas à luta pelos direitos humanos e de diversos movimentos sociais. O Tribunal Popular julgará o Estado brasileiro pelas violações sistemáticas dos direitos das camadas mais pobres das favelas e periferias urbanas, sobretudo dos jovens e negros. O Tribunal ocorrerá nos dias 04, 05 e 06 de dezembro também na Faculdade de Direito da USP.

O Estado será julgado pela violência policial sob pretexto de segurança pública nas favelas - dentre outros, o caso do Complexo do Alemão do RJ; violência estatal no sistema prisional - a situação do sistema carcerário e as execuções sumárias da juventude negra pobre na Bahia e os crimes de maio de 2006, em São Paulo, quando foram executadas cerca de 400 pessoas em apenas oito dias, marcando uma das semanas mais violentas da história brasileira; e a violência estatal contra movimentos sociais e a criminalização da luta sindical, pela terra e pelo meio ambiente.

Entre os acusadores e jurados estão os juristas Plínio de Arruda Sampaio, Hélio Bicudo, Nilo Batista, Kenarik Boujikian. Além de familiares e associações de vítimas da violência estatal, participam do Tribunal Wagner Santos, sobrevivente da chacina da candelária; a psicanalista Maria Rita Kehl; o filósofo Paulo Arantes; o coordenador do fórum de ex-presos políticos Ivan Seixas; o músico Marcelo Yuka; Ferréz - escritor e MC; e o sindicalista Valdemar Rossi.
www.tribunalpopular.org

Direito à Comunicação como Direito Humano: Rádios Comunitárias 3

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

REFÉNS DO ABANDONO: A vida depois da violência sexual 9


Exploração desafia Justiça

Se punir os autores de abuso sexual é um desafio para a polícia e para as entidades de defesa dos direitos da criança, a responsabilização dos exploradores é praticamente inexistente. Os aliciadores e os homens que fazem programa com crianças e adolescentes se valem da posição social e do poder econômico superior ao das vítimas para impedir que os processos sigam adiante. Eles só são presos no caso excepcional de serem flagrados em prostíbulos ou motéis.

A impunidade de um grupo de exploradores sexuais em Minas Gerais motivou um protesto do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes no último 18 de maio. O caso ficou conhecido como “as meninas de 50
centavos”: cinco garotas com idades entre 9 e 12 anos recebiam moedas para fazer sexo com moradores da cidade de Itaobim. Os crimes ocorreram entre 1998 e 1999, a sentença saiu em 2006 e até hoje nenhum dos exploradores foi preso.

Autor da sentença, o juiz Neanderson Martins Ramos conta que,durante o processo, apenas uma das vítimas manteve o depoimento inicial. Na pequena cidade mineira,
circulam boatos de que as famílias das outras meninas foram compradas com cestas básicas para inocentar os agressores. “Dos cinco acusados, consegui sentenciar apenas três. Os depoimentos foram mudando ao longo do processo”, conta o juiz. Os três condenados, entretanto, apelaram ao Tribunal de Justiça do estado e aguardam nova decisão da Justiça em liberdade.

A lentidão da Justiça também contribui para o sofrimento das crianças e adolescentes. Sem uma prioridade para os casos de abuso e exploração sexual contra
meninos e meninas, os agressores ficam livres e fazem das suas vítimas reféns do medo. A presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
(Conanda), Maria Luiza Oliveira, explica que os casos relacionados à infância deveriam ter prioridade. "Esses processos criminais entram numa fila longa.
A infância passa muito rápido e muitos casos levam mais de 10 anos para serem julgados", reclama Maria Luiza.

Dos 27 estados brasileiros,apenas três têm varas especializadas em crimes contra crianças e adolescentes: Bahia, Ceará e Pernambuco. Os dados foram levantados
pela defensora pública Hélia Barbosa, que atua em Salvador.A advogada verificou que a
criação de uma vara especializada reduziu em até três vezes o tempo de espera por uma resposta judicial. "Antes os casos ficavam parados por até seis anos.Hoje os julgamentos levam, em média, de um a dois anos."

REFÉNS DO ABANDONO: A vida depois da violência sexual 8


Agressores impunes, crianças refugiadas

Omecânico Agenor, de 47 anos, estuprou duas filhas,agrediu a mulher e fez ameaças para que as vítimas não denunciassem a violência sofrida. E depois dessa série
de brutalidades, quem perdeu a liberdade não foi o agressor,mas sim as meninas abusadas por ele. Agenor está livre. Sua mulher, a dona-de-casa Maria da Luz, 39 anos, teve que sair de casa aos oito meses de gravidez, ao lado dos onze filhos do casal. Hoje, as vítimas vivem espalhadas entre dois abrigos de João Pessoa,enquanto o criminoso que lhes tirou a dignidade circula à vontade pela capital paraibana.

Em casos de violência sexual em que o agressor faz parte do círculo familiar, é comum as vítimas deixarem o lar para escapar do abuso. A lógica se inverte:sem determinações legais para tirar os criminosos de casa ou assegurar a prisão preventiva deles, famílias inteiras precisam ser alojadas em abrigos para escapar
da violência. Tornam-se prisioneiras ao passo que abusadores e exploradores ficam livres e, muitas vezes, impunes.“Procurei o Creas e o conselho tutelar, mas tinha que ir sempre escondido. Quando ele descobriu que eu estava buscando ajuda, chegou em casa com dois facões e colocou embaixo do colchão. Disse que se eu falasse
sobre os estupros me mataria”, revela Maria da Luz.

A impunidade é comum nos casos de abuso sexual, o que só aumenta a dor das vítimas. Delegados e promotores não conseguem reunir as chamadas provas materiais, que dão maior segurança para que a Justiça decrete as condenações. Os juízes, por sua vez, resistem a punir os agressores tomando por base apenas o testemunho das crianças e adolescentes. “A história que se repete é a palavra delas (vítimas) contra a deles (agressores). Mas delegados e juízes têm medo de sair em defesa das meninas”, reclama Ana Lúcia Mesquita, presidente do Conselho Tutelar de Manacapuru,no Amazonas.

Quando acontece dentro de casa, o abuso costuma ser praticado por anos até que seja denunciado. No momento em que a situação de violência se torna pública, os sinais das agressões já desapareceram do corpo da vítima. “O ideal é solicitar exames de conjunção carnal, pesquisa de espermatozóide, análise de roupas, exame de lesão corporal, além de fazer a análise da região anal. Mas são raros os casos de flagrante, porque as vítimas só fazem os exames muitos meses depois da agressão”,
explica a delegada de Proteção à Criança e Adolescente de Natal,Adriana Shirley.

O silêncio e a negligência das mães das vítimas também contribuem para proteger os agressores. A maioria não enfrenta a situação como fez a paraibana Maria da Luz. Ao contrário, prefere acreditar que tudo não passa de uma história inventada pela
criança. Assim, a Justiça também encontra problemas para reunir testemunhos. “Além da
dificuldade de produção de provas,a maior barreira é a atitude de conivência assumida pela família. Como na dúvida temos que absolver os acusados, isso
atrapalha muito”, explica o juiz Max Nunes, do município paraibano de Mamanguape.

Manacapuru

O caso da amazonense Janaína,de 12 anos, é exemplar nesse sentido. A menina começou a
ser violentada pelo pai aos 6 anos, no município de Manacapuru. A denúncia veio quando uma professora desconfiou do agressor. “Eu já não agüentava mais. Ele prometeu parar, mas nunca parou”, desabafa a menina, que está protegida em um
abrigo de Manaus. O crime é do pai. Mas a pena está sendo cumprida pela adolescente.
O caso foi denunciado à polícia pelo conselho tutelar da cidade. Janaína passou por um exame pericial que recolheu esperma do agressor do corpo dela. Mas, enviado a Manaus, onde seriam feitos testes mais detalhados, o material estragou por falta
de acondicionamento adequado.

Na delegacia, a mãe e os vizinhos testemunharam em favor do agressor. Disseram que ele era um excelente pai. “O caso dela é revoltante. O abusador não passou um dia sequer na cadeia”, indigna- se a conselheira tutelar Ana Lúcia Mesquita.

Congresso Mundial de Enfrentamento da Exploração Sexual será transmitido ao vivo no Portal

07/11/2008

O III Congresso Mundial de Enfrentamento da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, que acontecerá de 25 a 28 de novembro na cidade do Rio de Janeiro, terá transmissão ao vivo no Portal Pró-Menino.

O evento deverá reunir mais de três mil pessoas de todo o mundo, sendo 300 adolescentes. Durante os três dias de encontro, serão realizadas oficinas, espaços de diálogo e cinco painéis sobre os temas ligados ao combate da exploração sexual de crianças e adolescentes.

Confira a programação da webtransmissão:

25 de novembro
19h – Solenidade de Abertura do Congresso


26 de novembro
9h – Painel 1: Formas de exploração sexual e seus novos cenários
14h30 – Painel 2: Marco legal e responsabilização


27 de novembro
9h – Painel 3: Políticas intersetoriais integradas
14h30 – Painel 4: Iniciativas de responsabilidade social


28 de novembro
9h – Painel 5: Estratégias de cooperação internacional
15h – Encerramento do Congresso, com aprovação do documento final

REFÉNS DO ABANDONO: A vida depois da violência sexual 7

SÃO POUCAS AS UNIDADES DE ATENDIMENTO QUE OFERECEM AJUDA PSICOLÓGICA ÀS VÍTIMAS, ETAPA
FUNDAMENTAL PARA A DESCOBERTA DOS TRAUMAS. SEM TRATAMENTO,CRIANÇAS E ADOLESCENTES GUARDAM CICATRIZES PROFUNDAS NA PERSONALIDADE


Danos psicológicos graves

Crianças e adolescentes abusados sexualmente quase sempre dão sinais de que estão
sofrendo. Isolam-se do convívio social, ficam desmotivados,apáticos. A auto-estima é
reduzida a zero.“Esses indicativos comportamentais dão a dimensão do quanto a
vítima pode estar sofrendo.Mas, muitas vezes, essas atitudes são entendidas pelos
adultos como atos de rebeldia,desobediência, indolência,afronta ou desrespeito”, explica o psicólogo Ângelo Motti,coordenador do Programa Escola de Conselhos da
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.


Sexo no porto

Noite de quinta-feira em Breves,município do Pará, região das ilhas do Marajó. Cica, de 15 anos, pedala sobre uma bicicleta velha.O apelido é uma referência a Daniela Cicarelli.

Em comum,as duas têm pernas longuíssimas. Para oferecer as dela aos passantes,a menina usa uma minúscula saia cor-de-rosa choque.Cica procura clientes na avenida em frente ao porto do rio Parauhaú.Breves é uma das paradas para os que fazem trajetos entre o Amazonas e o Pará de barco. O sexo com a Cicarelli local custa R$ 20.Mas o preço pode cair para R$ 15.

Mercosul e BID firmam acordo para financiar combate à exploração sexual infantil

Ana Luiza Zenker
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Os países membros do Mercosul – Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai – firmaram hoje (11)convênio com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), para financiar a Estratégia Regional de Combate à Exploração Sexual Infantil nas chamadas cidades gêmeas da fronteira entre os quatro países.

O projeto, discutido há cerca de um ano nas Reuniões de Altas Autoridades em Direitos Humanos e Chancelaria do Mercosul e Estados Associados (RAADH), inclui o diagnóstico da situação de exploração sexual em 14 cidades vizinhas na fronteira, chamadas cidades gêmeas, e a elaboração de um plano de trabalho envolvendo os principais atores sociais locais.

No plano estarão incluídas as polícias, que devem receber capacitação nos dois lados da fronteira, as autoridades judiciárias e a rede de atendimento, tanto no âmbito da saúde quanto no da assistência social. “Agora partimos para uma ação mais concreta nas políticas municipais”, além de acordos para harmonização legislativa, disse a subsecretária de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente da Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH, Carmen Oliveira.

Segundo Carmen, tais ações se traduzem na mobilização de redes sociais: “Muitas vezes, uma cidade tem uma equipe de saúde, tem um policial comprometido, mas eles não trabalham em cooperação.”

O financiamento é de US$ 950 mil, com uma contrapartida de US$ 200 mil dos países do Mercosul. Os recursos são provenientes da linha de financiamento do BID para a promoção de bens públicos regionais destinados a projetos de ação coletiva. A execução do projeto e a administração dos recursos ficarão a cargo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), por meio da Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura (Fapec).

De acordo com o coordenador técnico da ação pela UFMS, Ângelo Motti, há um diferencial em relação à metodologia aplicada no Brasil, desde 2003, no Programa de Ações Integradas e Referenciais (Pais). “O diferencial é que estaremos nessa região construindo um bem público regional. É isso que o banco está financiando, a construção de um bem público regional, a construção de redes de enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes, em especial o tráfico.”

O prazo do convênio é de dois anos. No primeiro, devem ser finalizados e aplicados os planos de ação. No segundo, será elaborada uma publicação com essa experiência, para que outras regiões possam também aplicar essa metodologia.

Atualmente, além do chamado turismo sexual, comum nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil, na tríplice fronteira é possível encontrar pontos vulneráveis em portos secos, decorrentes do tráfego intenso de caminhoneiros e de diferenças nos marcos legais.

Carmen Oliveira citou um estudo abrangendo dez países da América do Sul. Feito no ano passado, o estudo mostrou os avanços de cada país em diferentes áreas. O Uruguai, por exemplo, avançou na normalização de procedimentos judiciais, especificamente na apuração de delitos envolvendo crianças e adolescentes como vítimas. O Brasil obteve progresso na tipificação dos crimes na internet.

O convênio foi assinado durante a 14ª RAADH, realizada em Brasília. Além da exploração sexual, foram discutidos no encontro temas como Educação e Cultura em Direitos Humanos; o grupo Niñ@sur; Promoção e Proteção dos Direitos Humanos das Pessoas com Deficiência; Memória, Verdade e Justiça; Discriminação, Racismo e Xenofobia; Diversidade Sexual e Identidade e Gênero

FONTE: AgÊnia Brasil

REFÉNS DO ABANDONO: A vida depois da violência sexual 6


Almas em sofrimento

Osofrimento das vítimas de violência sexual se traduz em agressividade,revolta,
timidez e insegurança. A dor de ter o corpo violado provoca danos psicológicos
graves, que poderiam ser evitados ou minimizados com um acolhimento eficiente. Mas depois do abuso ou da exploração sexual, a maioria dos meninos e meninas tem mais um direito violado: fica sem atendimento e não recebe o apoio de profissionais como psicólogos, assistentes sociais ou pedagogos.

Distúrbios mentais, comportamentos compulsivos, dificuldade de desenvolver laços afetivos e promiscuidade são algumas das conseqüências deixadas pelas situações de violência sexual. A maneira de lidar com esses problemas precisa ser elaborada
de acordo com a experiência de cada vítima. “O abuso deixa diferentes marcas. Depende
do tipo de violência, da idade em que ela começou a ser praticada,do tempo que durou e de quem a praticou”, explica Eva Faleiros, pesquisadora do Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes (Cecria). Ela acrescenta que, quanto maior a proximidade entre a vítima e o agressor,mais difícil fica o tratamento.

As evidências do abuso ficaram claras no comportamento de Simone, 9 anos. Nas ruas do
pequeno e miserável município de Mamanguape, no brejo paraibano,ela foi estuprada por
um desconhecido. Após a violência brutal, passou a se comportar de maneira diferente. Ficou agressiva e desaparece de casa sempre que pode. Diante do problema, o padrasto da menina, um desempregado de 41 anos, decretou: não quer mais Simone por perto. Está em busca de um abrigo e já procurou a Justiça para dizer que prefere
“dar a menina”. “Vou acabar na cadeia por causa da garota. É só a gente se distrair que ela desaparece.

Não quero mais ficar com a menina em casa”, explica o padrasto, como se falasse de
uma mercadoria defeituosa.Ainda com a família, ouvindo as discussões sobre seu destino,ela brinca de boneca, alheia a tudo. As marcas do estupro se tornaram difíceis de apagar e as conseqüências ficaram evidentes nos atos e na revolta de Simone.“Aquele homem fez coisas muito ruins comigo, tenho vergonha só de lembrar”, conta a menina, com um riso de constrangimento e as mãos sobre o rosto. Como a família demorou a denunciar o caso, o início do atendimento psicológico e social
também atrasou. Simone passou mais de seis meses sofrendo em silêncio.

As autoridades de Mamanguape discutem o futuro de Simone.A promotora de Justiça
local, Ana Maria França, revoltase com o caso. “É um absurdo a família querer entregá-la à Justiça só porque ela passa por uma fase difícil. Quando ela mais
precisa de apoio e carinho, falam em mandá-la embora de casa”,desabafa. “Ela só precisava de um tratamento psicológico,não de um abrigo”, acrescenta a
promotora.

Revolta interior A revolta é recorrente entre as vítimas de violência sexual. “Muitas
meninas que sofrem abuso ou foram exploradas sexualmente chegam aqui agressivas, inquietas,com uma revolta muito grande por conta desse histórico de violência”, conta Sayonara Dias, diretora do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente
Casa Renascer, em Natal. A ONG oferece atendimento de referência às crianças e adolescentes que não têm espaço na rede pública de acolhimento.

Marcela, 15 anos, está na Casa Renascer. O sorriso no rosto da adolescente disfarça o passado de sofrimento. Depois de dois anos de ajuda psicológica, ela começou a superar a dor de ser estuprada pelo próprio pai. “Quando ela chegou aqui, juntamente
com a irmã mais nova,não conseguia nem mencionar o abuso. Agora, com apoio psicológico,Marcela começou a escrever uma nova história”, comenta Sayonara.“Meu pai me estuprou e fez o mesmo com duas das minhas irmãs.

A mais nova teve até perfurações no útero e precisou fazer cirurgia”, conta Marcela. Apesar do acompanhamento profissional,a adolescente ainda demonstra ódio pelo sexo masculino — sentimento comum entre vítimas de abuso sexual. “Homem nenhum presta. Não quero nunca saber de filhos, muito
menos de marido”, afirma.

Combate à exploração sexual de crianças na Tríplice Fronteira é tema de reunião

Brasília - O combate à exploração sexual de crianças e adolescentes nas cidades da Tríplice Fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai é um dos temas da 14ª Reunião de Altas Autoridades em Direitos Humanos e Chancelarias do Mercosul e Estados Associados (RAADH). O ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, participa hoje (11) da cerimônia de abertura, às 15h, no Centro de Convenções Brasil 21, em Brasília.

O encontro reunirá cerca de 100 representantes do bloco. A cada semestre, um país-membro da organização ocupa a presidência pro tempore (PPT) e realiza duas Reuniões de Altas Autoridades.

A partir do ano que vem, Brasil, Argentina e Paraguai vão atuar juntos contra a exploração sexual de crianças e adolescentes na Tríplice Fronteira. Hoje, representantes dos três países envolvidos no plano se reúnem em Foz do Iguaçu, para traçar as primeiras diretrizes do trabalho. Será implantado o Programa de Ações Integradas e Referenciais de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes em Território Brasileiro (Pair).



FONTE: Agência Brasil

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Manifesto da Jornada de 19 de novembro contra a carestia

A NOSSA FOME NÃO PODE DAR LUCRO!
NÃO PODEMOS PAGAR PELA CRISE!


Hoje, 19 de novembro de 2008, mais uma vez, em luta nos levantamos. São ações simultâneas em 7 estados do Brasil contra o aumento do custo de vida do povo pobre. Desta vez, entramos nos templos-sagrados daqueles que vêem na fome de um irmão o lucro saltando dos bolsos.
No dia de hoje ecoa, em diferentes estados deste rico e imenso país, a voz dos que não têm direito à igualdade racial, ao trabalho digno, ao salário digno, à moradia digna, ao transporte digno, à educação e saúde dignas, nem à alimentação digna, enfim, os que não tem direito à própria dignidade.
Num ato de desobediência civil, aqui ela está: Nossa dignidade. E ela neste momento fala por nós. Fala que não aceitaremos que os ricos fiquem ainda mais ricos com nossa fome. Fala que não aceitaremos que o arroz e o feijão dobrem seu preço enquanto o Estado diz que nada pode fazer, mas ao mesmo tempo injeta bilhões de dólares aos bancos e especuladores. Fala que a terra que deveria produzir o alimento para a sociedade é um mar de cana para fazer rodar os carros em várias partes do mundo. Fala que jogam com nossa fome numa bolsa de valores onde nós somos a única coisa que não vale nada; porque somos gente e não temos preço. Fala que, embora não valhamos nada, é a nossa carne que será usada para pagar a crise financeira mundial. Fala que essa crise – produto de um sistema irracional e injusto – desempregará milhares (ou milhões?) de trabalhadores e lançará outros tantos na mais profunda miséria em todas as partes do mundo e de nosso país.
Mas nossa dignidade não apenas fala, porque nossas vozes são cansadas do sofrimento e da injustiça. Nossas vozes gritam, exigindo aqui, diante de um símbolo do imperialismo, da ganância que eleva o preço da comida e de um sistema que não existe sem crise, fome, violência e injustiça, que seja nosso tudo o que produzimos com nosso suor.
Por tudo isso, exigimos:


- Política estatal de controle e congelamento de preços.
- Manutenção e abertura de novos restaurantes populares públicos.
- Abertura de mercados populares subsidiados pelo estado e administrados por organizações populares.
- Nenhum subsídio ao mercado financeiro. Que o governo subsidie a alimentação, a moradia popular, o transporte público, etc.


ASSINAM ESTE MANIFESTO:


Movimento dos Trabalhadores Sem Teto - Movimento Urbano dos Sem Teto - Movimento Passe Livre (SP) - Movimento dos Conselhos Populares (CE) - Frente Estadual de Luta pela Moradia (MG) - Brigadas Populares (MG) - Movimento das Famílias Sem Teto (PE) -Movimento Quilombo Urbano (MA) - Movimento Terra, Trabalho e Liberdade (PA) - Centro Popular pelo Direito à Cidade (PA) - Movimento Popular Socialista (PA) - Federação das entidades comunitárias de Castanhal (PA) - Associação Afro-religiosa Omo Ode (PA) - Grupo Garra Afro (PA) - Circulo Palmarino - Movimento Sem Teto da Bahia.




AÇÕES DA JORNADA NACIONAL CONTRA A CARESTIA – PELA REDUÇÃO DO CUSTO DE VIDA
19 DE NOVEMBRO DE 2008

Lei Maria da Penha: um compromisso para a Justiça brasileira

A história de vida de Maria da Penha, comum a de tantas mulheres que levam no corpo e na alma as marcas visíveis e invisíveis da violência, tornou-a protagonista de um litígio internacional emblemático para o acesso à justiça e a luta contra a impunidade em relação à violência doméstica contra as mulheres no Brasil. Ícone dessa causa, sua vida está simbolicamente subscrita e marcada sob o nome de uma lei.

A Lei Maria da Penha representa inegável avanço na normativa jurídica nacional: modifica a resposta que o Estado dá à violência doméstica e familiar contra as mulheres, incorporando a perspectiva de gênero e direitos humanos da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW) e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará); rompe com paradigmas tradicionais do Direito; dá maior ênfase à prevenção, assistência e proteção às mulheres e seus dependentes em situação de violência, ao mesmo tempo em que fortalece a ótica repressiva, na medida necessária; e trata a questão na perspectiva da integralidade, multidisciplinaridade, complexidade e especificidade, como se demanda que seja abordado o problema.

As leis são instrumentos para concretizar princípios, garantir direitos, fazer realidade nossa cidadania. Uma lei que abarca a violência doméstica contra as mulheres em ampla dimensão - e não a trata de maneira isolada, senão conectada a políticas públicas intersetoriais - tem múltiplos desafios. O maior deles, talvez: a mudança de olhar e atitude. Melhor não poderia ser, pois, a convocatória de 2008 para a Campanha dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher: "Há momentos em que sua atitude faz a diferença. Lei Maria da Penha. Comprometa-se".

Em dois anos de vigência da lei, o processo de sua implementação ainda está só começando, com avanços, obstáculos e desafios. A mudança estrutural nas dinâmicas institucionais e em comportamentos culturais que a lei reflete e invoca não se opera em curto prazo. Mas urgem atitudes de comprometimento com a lei, por parte de distintos atores, que fazem e farão a diferença. Hoje, chamemos ao compromisso ao menos um ator em especial: o Poder Judiciário, particularmente o Supremo Tribunal Federal.

Em virtude da controvérsia judicial que se instalou no país sobre a aplicação da Lei Maria da Penha, com decisões que afirmam tanto a inconstitucionalidade, como a constitucionalidade da lei, o Presidente da República ingressou, em dezembro de 2007, com Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC/19) perante o Supremo Tribunal Federal (STF), com o fim de obter a declaração de constitucionalidade dos artigos 1º, 33 e 41 da lei, por entender que a mesma não viola: o princípio da igualdade entre homens e mulheres (art. 5º, I, CF); a competência atribuída aos Estados para fixar a organização judiciária local (art. 125 § 1º c/c art. 96, d, CF) e a competência dos juizados especiais (art. 98, I, CF). Corretíssima interpretação constitucional. Atitude de comprometimento jurídico-político na iniciativa presidencial.

Atitude de comprometimento, ainda, do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, que na referida ação ingressou com Amicus Curiae ("Amigo da Corte") em defesa da constitucionalidade da Lei Maria da Penha; assim como, no marco do 25 de novembro, Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher, da mesma forma o fazem Cladem/Brasil (Comitê Latino-americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher) junto com as organizações que o integram: Themis -Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero, Ipê - Instituto para a Promoção da Equidade e Instituto Antígona.Qual será, pois, a atitude de comprometimento da cúpula da Justiça brasileira para com a lei nesse contexto, considerando-se ainda haver 83% de aprovação à lei pela população (pesquisa Ibope/Themis)?

Por ocasião do evento público de reparação material (pagamento de indenização) e simbólica (pedido de desculpas) do governo do Ceará à Maria da Penha (07.07.08), em cumprimento às recomendações da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (Informe 54/2001), Maria da Penha afirmou: "Estou muito feliz por receber essa indenização, mas minha maior alegria segue sendo a existência da Lei 11.340/06, chamada Lei Maria da Penha, que me permite dividir com cada mulher que sofre violência nesse país. É ela que garante que a dignidade da mulher exige respeito e que transforma a violência contra a mulher em crime contra os direitos humanos". E apontou: "há muito que se fazer para resgatar a dívida histórica para com as mulheres", indicando investimentos a serem feitos para a "desconstrução da cultura machista", com a correta aplicação da Lei Maria da Penha.

A declaração de constitucionalidade da Lei Maria da Penha pelo STF representará, assim, não só legítimo direito constitucional das mulheres - à igualdade, à não-discriminação e a viver livre de violência – mas também expressão simbólica de resgate dessa dívida histórica. Direito constitucional que merece, ainda, ser objeto de uma súmula vinculante, afirmando-o como jus cogens (norma imperativa), pois assim o são os direitos de igualdade e acesso à justiça em âmbito nacional e internacional, conforme entendimento da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Razão maior para que o órgão máximo da Justiça brasileira reconheça a constitucionalidade da lei e seu caráter de imperatividade, pondo fim à violência institucional que, por ação ou omissão, tolera e perpetua a violência doméstica e familiar contra as mulheres como sistemática violação aos direitos humanos no país. Em outras palavras... Lei Maria Penha: STF, Comprometa-se!

* Valéria Pandjiarjian: 39; é advogada feminista, responsável pelo programa de litígio internacional do Cladem (Comitê Latino-americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher). Membro do Cladem/Brasil desde 1992; integra também a fundação e o conselho de várias organizações de mulheres no país.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Renda do negro é metade da do não-negro

Segundo pesquisa Seade/Dieese, negro tem rendimento médio de R$ 4,36 por hora em SP; não-negro recebe R$ 7,98

Causas da diferença são o menor acesso à educação e o preconceito, que impede o negro de subir na carreira, segundo os especialistas

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

O trabalhador negro (preto e pardo) ganha apenas cerca da metade do que o não-negro (branco e amarelo) recebe na Grande São Paulo. São R$ 4,36 por hora, em média, contra R$ 7,98, segundo pesquisa realizada pela Fundação Seade e pelo Dieese.
Quanto maior o nível escolar, maiores as disparidades. O rendimento real do indivíduo negro que não concluiu o ensino fundamental é de R$ 3,44 por hora, e o do não-negro, R$ 4,10 -uma diferença de 19,2%.
Já na comparação entre duas pessoas que terminaram a universidade o abismo atinge 40%: o negro recebe R$ 13,86 por hora e o não-negro, R$ 19,49. O levantamento foi realizado em 2007, mas os valores tiveram correção monetária até julho.
"Considerando a média de R$ 4,36 por hora e o fato de que o negro escravo do Brasil Imperial contava com a renda indireta da comida e da moradia, pode-se falar que nada mudou", argumenta o presidente da ONG Afrobras e reitor da Unipalmares (Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares), José Vicente.
No que diz respeito ao desemprego, a situação apresentou pequena melhora nos últimos dez anos. Em 1999, a porcentagem de negros desempregados era de 24,3% ante 16,8% dos não-negros. No ano passado, as taxas estavam em 17,6% e 13,3%. O Dieese diz que a tendência é semelhante no resto do país, porém os números mudam segundo a composição étnica da população local.
"O crescimento da economia do país desde 2004 criou vagas para os negros. Algumas diferenças, entretanto, não se desfazem ao longo do tempo", diz Patrícia Lino Costa, coordenadora da pesquisa.
O indicador "mais preocupante", aponta, é o que mostra a distância entre os ganhos dos negros e dos não-negros que fizeram faculdade. O restrito acesso à escola é uma das principais causas da desigualdade no mercado de trabalho, mas, para quem conseguiu superá-la, o preconceito acaba sendo o pior obstáculo, afirma. Uma vez contratado por uma empresa, o trabalhador negro não consegue galgar posições e subir na carreira, daí a sua renda ser inferior à dos brancos que sobem na hierarquia, diz ela.
"Os negros não conseguem sequer entrar em um cargo mais elevado. Entre um engenheiro negro e um branco, certamente prefere-se contratar o branco, achando que o negro não é capaz", afirma Vicente.
"Na minha opinião, trata-se da dificuldade em lidar com o diferente", resume Costa. "Existe um perfil de trabalhador que o mercado recebe melhor: homem branco, entre 25 e 39 anos. Ou seja, negros são discriminados, mulheres, homens muito novos ou mais velhos."
Por isso, de acordo com os especialistas, a redução das disparidades começa na educação fundamental, para que as crianças aprendam desde cedo a lidar com as diferenças. Para Vicente, as cotas em escolas técnicas e nas universidades ajudam, porém deveriam ser uma "verdadeira política de Estado, e não fruto apenas da boa vontade de um grupo de reitores". As empresas, por sua vez, estão aumentando os seus programas de inclusão, diz Costa.
"O problema é a velocidade do avanço. No Brasil, que se orgulha da sua miscigenação, números como esses de renda e emprego são chocantes. Os EUA, onde até 50 anos atrás um negro não podia beber água no mesmo bebedouro de um branco, acabaram de eleger um negro presidente. Falta seriedade ao nosso governo", diz Vicente.

Fonte: Folha de São Paulo

REFÉNS DO ABANDONO: A vida depois da violência sexual 5

Protocolo de atendimento

Por lei, as vítimas de violência sexual têm direito a serem atendidas por uma enfermeira ou uma médica caso não se sintam à vontade com um homem. Além do tratamento das lesões e do abalo psicológico, os profissionais de saúde têm que fazer um exame físico completo, envolvendo consulta ginecológica, coleta de amostras para diagnóstico de infecções genitais e coleta de material para a identificação do agressor. Ainda de acordo com o protocolo, o responsável pelo atendimento tem que informar a mulher ou a adolescente sobre o direito de tomar contraceptivos de emergência ou de interromper a gravidez.

Também deve receitar antiretrovirais que impeçam a infeção pelo vírus da Aids.A
medicação deve ser dada até 72 horas após o ato sexual para ser eficaz.


ATENDIMENTO MÉDICO A VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL TEM EFEITO LIMITADO.
MUITAS VEZES, ELAS PROCURAM AJUDA QUANDO A SITUAÇÃO É CRÍTICA OU IRREVERSÍVEL, COMO
APÓS 22 SEMANAS DE GRAVIDEZ.DIFICULDADE DE RECOLHER PROVAS E ENCAMINHAR DENÚNCIAS PIORA A ASSISTÊNCIA

O teste da Aids Em agosto, no abrigo Dulce Accioly, em Belém, Lúcia, 16 anos,
aguardava pelo resultado do teste de HIV .Magra,com feridas nos braços e nas
pernas, chegou ao abrigo tossindo muito.

Três meses depois, veio o alívio. O exame deu negativo. Outras três meninas atendidas na Santa Casa, de Belém, não tiveram a mesma sorte.Receberam testes
de HIV positivos este ano. Se o atendimento médico tivesse ocorrido logo depois da
violência, elas teriam tomado o coquetel anti- retroviral.

REFÉNS DO ABANDONO: A vida depois da violência sexual 4


CLARA, 12 ANOS, GRÁVIDA DE SEIS MESES APÓS SOFRER ABUSO DO PADRASTO DE 51 ANOS EM MANAUS.A VIZINHANÇA SABIA DO CASO, MAS NÃO DENUNCIOU À POLÍCIA. A MENINA MORA EM UM ABRIGO

Osilêncio é o maior inimigo do tratamento das crianças e adolescentes vítimas de violência sexual. Quanto maior a demora para denunciar os casos, mais graves
são as conseqüências deixadas na alma e no corpo de meninos e meninas. As vítimas são
encaminhadas ao tratamento apenas quando os sinais da violência já não podem ser escondidos.

Nos hospitais, o abuso e a exploração chegam como problemas de saúde. São barrigas
indesejadas, doenças venéreas,transtornos mentais.Clara, 12 anos, serviu sexualmente
ao padrasto, um homem de 51 anos, durante doze meses. Toda a vizinhança sabia da relação entre a menina e o militar aposentado, mas ninguém denunciou o crime à polícia. Seduzida pelo homem que chamava de pai, Clara se via no lugar da
mãe. “Ela (a mãe) largou a gente.Ele disse para a gente formar uma boa família. Eu aceitei”, conta. Ao chegar ao abrigo Mamãe Margarida, de Manaus, a menina ainda não entendia que havia sido violentada. Apenas quando a gravidez de Clara passou a ser visível, o caso chegou à polícia. O abusador foi preso preventivamente. A vítima
foi mandada ao abrigo da capital do Amazonas. Mas o prazo de vinte e duas semanas de gestação, que permite o aborto legal, já havia sido ultrapassado. Clara assumiu
a gravidez indesejada. “Vou ter meu filho e cuidar dele, ainda não sei como”, reconhece a menina,com as mãos sobre a barriga de seis meses. O nascimento do
bebê será a oportunidade para fazer o exame de DNA e comprovar a culpa do padrasto.
“As vítimas costumam chegar aqui quando a situação bateu no teto, no insustentável, no indisfarçável”, afirma a coordenadora do programa de saúde Pro-Paz Integrado, Eugênia Fonseca. O Pro-Paz, como é mais conhecido,funciona em um anexo do Hospital
Santa Casa, em Belém.

No ano passado, 803 vítimas foram atendidas no Pro-Paz, 35 delas ficaram grávidas em decorrência da violência. O aborto só foi realizado em 13 casos, já que as outras
haviam chegado depois das 22 semanas de gestação. Outras duas meninas encaminharam os
bebês para a adoção. “Em caso de gravidez, o mais normal é que elas cheguem depois do prazo permitido para o aborto. Nosso trabalho passa a ser convencêlas a não rejeitar a gravidez”, lamenta Eugênia Fonseca.

Falhas na notificação O protocolo de atendimento do Ministério da Saúde determina
as condições de assistência médica — com profissionais especializados e uma extensa bateria de exames — para as vítimas de violência sexual. Mas a maioria dos hospitais não tem equipe capacitada para prestar esse nível de atendimento. E a vítima chega
num momento de fragilidade tal que não consegue exigir nada.

Nas cidades pequenas, o problema é ainda mais grave: as vítimas são encaminhadas à capital do estado ou a cidades de maior porte para que possam se submeter aos exames necessários.

O cumprimento do protocolo médico também ajudaria no processo de responsabilização do
agressor, já que os profissionais de saúde comprovariam a violência e retirariam do corpo da vítima o material necessário para constituir as provas judiciais. Na prática, entretanto, há médicos que até se recusam a emitir o laudo por não ter experiência em perícia e encaminham as vítimas ao IML. "Elas passam por um segundo
sofrimento, uma segunda vitimização ao expor o corpo violado para diferentes profissionais",afirma Graça Gadelha, socióloga e consultora do Programa Partners of the Americas (Companheiros da América).
Também há falhas na notificação da violência na rede de saúde. Os médicos e enfermeiros que constatam uma agressão sexual muitas vezes deixam de dar o devido encaminhamento ao caso, como notificar o conselho tutelar. “Há profissionais que ficam com receio de fazer a notificação por acharem que estarão fazendo uma denúncia e que isso, de certa forma, pode envolvêlos em um procedimento judicial”,explica a coordenadora de Saúde do Adolescente e do Jovem do Ministério da Saúde, Thereza
de Lamare.

Em 2006, o governo federal criou o Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (Viva), que vai organizar os dados sobre acidentes, suicídios e violência contra a mulher, a criança e o adolescente. O primeiro levantamento do sistema, realizado no
ano passado em 84 unidades de sa úde de 37 municípios, mostrou que a agressão sexual é a primeira causa de atendimento a meninas de 0 a 9 anos. Dos 1.939 registros de violência contra crianças,43% eram referentes a abuso ou exploração sexual. “A implantação do Viva vai resolver o problema da notificação de violência sexual na rede de saúde”, acredita Thereza de Lamare.

REFÉNS DO ABANDONO: A vida depois da violência sexual 3

Alta rotatividade

Em João Pessoa, a alta rotatividade dos funcionários da área de assistência social incomoda até a prefeitura. Dos 62 servidores da Secretaria de Desenvolvimento
Social, apenas dois são concursados. “O número de técnicos é insignificante perto da demanda.

Faz pouco tempo que a assistência social deixou de ser vista como benesse para ser considerada uma necessidade”, explica a secretária de Desenvolvimento Social,
Francisca Fernandes.

Em Brasília, no sexto andar do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, a diretora do Departamento de Proteção Especial, Valéria Gonelli, reconhece
que a rotatividade dos profissionais é um problema. “O ideal é que fossem todos do quadro das prefeituras, mas a lei de responsabilidade fiscal impede os municípios de contratar.”

A falta de especialização nos centros de atendimento também é criticada. Até 2002, o governo federal manteve um serviço específico para crianças e adolescentes vítimas de violência sexual, o programa Sentinela. Há dois anos, o projeto foi substituído
pelos Creas.Além das vítimas de abuso e exploração, esses centros recebem registros de violência doméstica e casos de discriminações,trabalho infantil e cumprimento
de medidas socioeducativas.“Aumentaram as obrigações, mas continuamos com o mesmo
número de profissionais”, comenta Luzia de Carvalho, coordenadora do Creas Comércio, que funciona no centro de Belém.

O psicólogo Ângelo Motti, gerente nacional do Sentinela de 2000 a 2002, critica a extinção do programa. “A diversidade das situações colocadas para as equipes dos Creas prejudica a capacidade de dedicação às vítimas de violência sexual”, avalia.
Em todo o Brasil, há dificuldades para fazer a rede de atendimento funcionar de maneira integrada. Na esfera federal, a Secretaria Nacional de Direitos Humanos traça as ações conjuntas na área de Saúde, Educação e Assistência Social. Mas, na
maioria dos estados e municípios,não existe um órgão similar capaz de fazer a articulação dos programas. “A política de atenção integrada não é realidade.
Ainda não conseguimos identificar quem pode assumir responsabilidades nos estados e
municípios”, lamenta a subsecretária Carmen Oliveira.

R$ 47,5 milhões é o total destinado ao combate à violência sexual R$ 40,5
milhões é o valor concentrado pelo Ministério do Desenvolvimento Social 360 denúncias de exploração sexual ou abuso de crianças e adolescentes são encaminhadas todos os dias à Secretaria Especial de Direitos Humanos. Mas a capacidade de atendimento dos Creas é de... 158 pessoas por dia.

REFÉNS DO ABANDONO: A vida depois da violência sexual 2


Onde o Estado não alcança

A principal política pública para atender crianças e adolescentes vítimas de abuso e exploração sexual só existe em 22% dos 5.564 municípios brasileiros.Os Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas) — para onde são encaminhados meninos e meninas que sofreram agressões e negligência — funcionam em apenas 1.230 cidades.Nos lugares onde não há Creas, as vítimas ficam sem qualquer amparo para superar o trauma da violência sexual.

A ajuda precária pode ser medida em números.Diariamente, a Secretaria Especial de Direitos Humanos recebe 360 denúncias referentes a violência sexual.Mas os Creas só têm capacidade de atender uma média de 158 pessoas por dia.Ou seja, mais da metade dos casos fica sem assistência. “A rede não dá conta de auxiliar todas as vítimas”, reconhece a subsecretária de Promoção aos Direitos da Criança e do Adolescente,Carmen Oliveira.

Essa realidade poderia ser muito diferente.Uma economia de apenas 4% nas despesas do governo com energia elétrica permitiria dobrar o investimento no combate à violência sexual contra crianças e adolescentes. A conta de luz da União custa R$ 1,14 bilhão por ano. Até 15 de outubro de 2008, foram aplicados R$ 47,5 milhões para atender vítimas de abuso e exploração sexual.O levantamento foi realizado pela ONG Contas Abertas, a pedido do Correio. Além de escasso, o recurso é distribuído de forma desigual.Dos R$ 47,5 milhões gastos de janeiro a outubro, o Ministério do Desenvolvimento Socia l e Combate à Fome (MDS) recebeu R$ 40,5 milhões, 85% do total. Esse valor foi investido na implantação de Creas e no pagamento de profissionais.“O combate ao abuso e à exploração sexual deve envolver diferentes atores”, aponta Neide Castanha, secretária-executiva do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes.

Valéria Gonelli, diretora do Departamento de Proteção Especial do MDS,ressalta o esforço do governo federal em ampliar a assistência. Ela argumenta que, há três anos, os centros existiam somente em 316 cidades. “Trabalhamos para levar o serviço a todos os municípios onde há risco de violência sexual, mas nossa maior dificuldade está em descobrir onde a necessidade é mais urgente”, justifica. “É algo que, quase sempre, acontece entre quatro paredes.”

REDE DE ATENDIMENTO A CRIANÇAS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL COBRE APENAS 22% DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS.PREFEITURAS TÊM DIFICULDADE EM CONTRATAR E MANTER
PROFISSIONAIS ESPECIALIZADOS NA ASSISTÊNCIA INFANTIL


Situada a 58km de Natal,a pacata cidade de Goianinha é um dos milhares de municípios brasileiros onde crianças e adolescentes não contam com uma rede de proteção social contra a violência e exploração sexual. “As meninas daqui vão para a Praia da Pipa,
onde fazem programas com turistas em troca de dinheiro ou presentes”, reclama Dione Maria Almeida, assistente social da prefeitura de Goianinha.

Há anos a prefeitura da cidade potiguar reivindica a construção de um Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas). Mas a parceria necessária
para instalar a unidade ainda é irreal. Dione Almeida ressalta que um Creas com serviço voltado ao apoio das famílias seria um aliado importante na luta contra
a exploração.

Nos 4.334 municípios não atendidos pelos Creas, o desamparo é a regra. As vítimas acabam sem atenção especializada e os casos de violência sexual contra crianças e adolescentes aumentam. Onde o Estado não está, o terreno fica livre para a atuação
de abusadores e de exploradores.

Em Natal, o Creas funciona em uma casa ampla na área central da cidade. No local, trabalham duas psicólogas, duas assistentes sociais, um assessor jurídico, seis educadores sociais, além de motorista, vigia e recepcionista. Com essa organização, o Creas realizou 155 atendimentos a vítimas de violência sexual só no primeiro
semestre deste ano. Mesmo com boas condições de trabalho, há fila de espera para a assistência psicológica. Além da grande procura, uma falha compromete a qualidade
do acolhimento das vítimas: a alta rotatividade. A maioria dos profissionais tem contratos temporários e fica apenas um ano em atuação. O entra-e-sai de funcionários
confunde as crianças. Depois de um longo processo para conquistar a confiança das vítimas,a equipe precisa deixar o posto. A ajuda é interrompida, o trauma persiste.
Silvia, de 14 anos, foi abusada pelo padrasto aos 10. Ao ouvir os relatos desesperados da menina,a mãe achou que tudo não passava de uma fantasia infantil e ficou ao lado do marido. Silvia teve que sair de casa para viver em um dos abrigos de Natal e hoje recebe atendimento no Creas. “Eu gosto de vir conversar com a psicóloga, me ajuda bastante”, conta Silvia.

Mas ao chegar ao centro em uma segunda-feira de setembro, a menina perguntou: “Cadê a psicóloga que participou do nosso grupo na semana passada”? Descobriu que a funcionária havia deixado o cargo após o fim do contrato.

Creas

Os Centros de Referência Especializados de Assistência Social são básica de psicólogo,assistente social e advogado.

Os profissionais têm a missão de acolher as vítimas, minimizar o sofrimento e abrir caminho para a punição dos agressores.Além dos casos de violência sexual, os Creas
devem proteger crianças que estejam sofrendo violência física, negligência,abandono, ameaças e maus-tratos.São,ainda, responsáveis por fiscalizar adolescentes em
cumprimento de medida socioeducativa, liberdade assistida ou prestação de serviços à comunidade

Desigualdades sociais são hoje maiores do que em 1990, diz Ipea

A desigualdade social que hoje existe no Brasil é maior do que em 1990. Isso acontece porque apesar de os trabalhadores terem acompanhado aumento em seu salário, a participação deles na renda nacional é menor do que naquele período, segundo o estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) nesta quarta-feira.

O rendimento dos trabalhadores das classes mais baixas está maior. Eles estão recebendo salários mais altos, ao mesmo tempo em que aqueles que ocupam os principais postos de trabalho tiveram redução em sua renda mensal. A camada dos 10% mais pobres tinha, no início da década de 90, renda mensal média de R$ 67,00, e em 2007 este valor era de R$ 97,00. A renda dos 20% mais pobres também cresceu, de R$ 202,00 para R$ 236,00.

Por outro lado, o rendimento mensal médio dos 10% mais ricos diminuiu, de R$ 4.559,00 para R$ 4.114,00. O mesmo aconteceu com os 1% mais ricos: de R$ 13.604,00 que recebiam mensalmente em 1990, passaram a receber R$11.878,00.

No entanto, essa desigualdade que vem diminuindo, chamada de pessoal, não é vista na participação dos trabalhadores na economia nacional. Em 1990, a participação da renda do trabalhador, chamada de participação funcional, correspondia a 45,4% da economia nacional. Porém, a partir de então, o Brasil passou por uma série de transformações que exigiram que o País adotasse políticas econômicas para enfrentar a inflação e a desvalorização do real, para depois se abrir à economia mundial.

Para o presidente do Ipea, Márcio Pochmann, todas as medidas afetaram a distribuição de renda dos trabalhadores brasileiros, cuja participação de sua renda na economia nacional voltou a crescer apenas em 2004. “Este fato se deve a uma combinação da expansão do emprego e da remuneração dos trabalhadores, acompanhado de um gasto público mais adequado, voltado para proteção dos trabalhadores de menor remuneração.” De acordo com o relatório do instituto, em 2007 a participação funcional ocupava uma parcela de 41,7% da renda brasileira e, se o País continuar neste ritmo de crescimento, atingirá o mesmo patamar do início da década de 1990 em 2011.

Para haver uma melhora geral na distribuição da renda nacional, é necessário que a redução da desigualdade pessoal seja simultânea ao aumento da participação funcional da renda dos trabalhadores na economia nacional. Essa combinação, segundo Pochmann está acontecendo lentamente no País. “A distribuição de renda no Brasil vem melhorando em um período bem recente com uma combinação de uma melhor distribuição entre a renda dos trabalhadores e uma melhor participação dos salários na renda nacional. Toda vez que aumenta os salários na renda nacional e reduz a desigualdade entre os salários, o País apresenta um sinal de redução da desigualdade. Não é possível dizer que houve melhoria na distribuição de renda quando não há esta combinação.”

Diante do cenário da crise econômica global, o presidente do Ipea diz que o Brasil terá uma desaceleração econômica muito drástica nos próximos meses, e isto impedirá que se reduza a desigualdade. “A redução na desigualdade de renda do trabalhador pode estar comprometida pelo que vai ocorrer no final do ano, tendo em vista a combinação de dois fatores: a desaceleração da economia resultante das decisões da elevação da taxa de juros e os efeitos da crise internacional que se abate não apenas no setor financeiro, mas nas decisões das empresas e das famílias.”

Fonte(Redação IG)

Exigimos justiça!

Protógenes Queiroz é delegado da Polícia Federal. Foi quem efetuou a prisão de Paulo Maluf, do contrabandista Law Kin Chong, do banqueiro Daniel Dantas, de Naji Nahas e do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta.

Foi ele que conduziu a Operação Satiagraha, deflagrada no último dia 08 de Julho, que resultou na prisão do banqueiro corrupto Daniel Dantas, do ex-prefeito de São Paulo e também acusado de crimes de corrupção, Celso Pitta e do mega especulador, Naji Nahas. Na ocasião, Dantas foi preso por duas vezes por determinação do juiz federal Fausto de Sanctis e também liberado nas duas oportunidades pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Vale lembrar que Mendes, além de determinar a soltura de Daniel Dantas, ainda retaliou o juiz Fausto de Sanctis, que determinou as duas prisões, com denúncias na Corregedoria da Justiça Federal, numa clara demonstração de pressão pela posição firme do magistrado. Felizmente, mais de uma centena de juízes federais se solidarizaram e se manifestaram a favor do colega e cont ra opresidente do STF, o que evitou medidas mais duras contra Fausto de Sanctis, que apenas cumpriu seu dever, de servidor público.

Ao trombar com Dantas e sua influência nos altos escalões da República, Protógenes não recuou. Enfrenta agora o STF, que segundo o ex-ministro da justiça, Fernando Lira, em entrevista à imprensa, atua como se fosse advogado de Daniel Dantas. Enfrenta a cúpula da Polícia Federal, sob o comando de um diretor que é conhecido como "homem de José Dirceu", a mesma cúpula que lhe tirou todas as condições para seguir com suas investigações sobre Dantas, não logrando êxito em parar-lhe. Enfrenta o próprio ministro da Justiça, Tarso Genro. Enfrenta também a grande mídia, que trata o assunto como se fosse uma mera disputa interna na Polícia Federal.

Logo em seguida da divulgação da Satiagraha, o delegado Protógenes foi afastado do inquérito, numa clara atitude de fragilizar a continuidade das investigações.

De investigador, Protógenes passou a investigado. O juiz federal Fausto de Sanctis, que despachou as ordens de prisão contra Dantas, também é intimidado publicamente. Daniel Dantas - apelidado de "o PC Farias que deu certo" - é sutilmente colocado como vítima de métodos ilegais de investigação. Seus advogados estão ensaiando ir direto ao STF (porque será, Fernando Lira?) para invalidar toda a Satiagraha e suas conclusões.

Não podemos aceitar que o banqueiro corrupto continue em liberdade enquanto o delegado e o juiz que determinaram sua prisão sejam perseguidos.

Faça sua parte e exija justiça! Colabore com esta corrente, repassando esta mensagem a todos os seus contatos.

Noticias da Situação de Itaquaquecetuba

Chaga-nos a noticia que depois da matéria da Rede Record semana passada sobre a retirada ilegal das crianças de suas familias, e a pressão da que tem sofrido a Juiza e a Promotora, essas decidiram ouvir a familia, entretanto, a Promotora ao invés de defender o cumprimento da lei, defendeu a postura do Conselho Tutelar da gestão qeu aconteceram essas irregularidades que foi o provocador da violação,como fica claro no ECA no artigo 23.

A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do pátrio poder.

O que deixa claro é que como o caso aconteceu naquela vara, com aquela Juiza e Promotoras, envolvidas diretamente as mesmas estão sob suspeição não podendo atuar no caso, apurando as irregularidades acontecidas durante esses processos.

REFÉNS DO ABANDONO: A vida depois da violência sexual 1



ÉRICA MONTENEGRO E
HELENA MADER

DA EQUIPE DO CORREIO BRASILIENSE

O primeiro capítulo desta história já foi contado.Na beira das praias,nas rodovias,no centro das metrópoles,meninas e meninos vendem o corpo em troca de
comida,presentes ou algum dinheiro.Dentro do lar,crianças são estupradas ou têm a
intimidade violada por pais, padrastos e vizinhos.Cenas e dramas como esses causam
indignação à opinião pública, mas caem no esquecimento.O que permanece obscuro é o capítulo seguinte ao abuso,ao estupro,à exploração.Quando meninos e meninas precisam de auxílio para retomar o curso de suas vidas,encontram o desamparo.

Enquanto as vítimas sofrem com traumas,gestações indesejadas e a solidão dos abrigos,os agressores quase sempre estão impunes.Neste caderno especial,o Correio
mostra que,depois da violência,crianças e adolescentes ficam sem atendimento psicológico,jurídico, médico e social.Abandonados, amargam a dor e a vergonha dos
crimes cometidos por adultos.

O desafio de investigar

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em vigor há 18 anos, determina que as políticas públicas para a infância e a juventude sejam prioridades absolutas no país.Os cidadãos com até 18 anos merecem preferência na prestação de socorro em quaisquer circunstâncias.No caso das vítimas de abuso e exploração sexual, o que se vê é o descumprimento das normas legais e o abandono de quem sofreu as agressões no corpo e na alma.

Para desvendar o que acontece depois da violência, o Correio entrevistou 37 crianças e adolescentes e 110 pessoas envolvidas com a proteção dos direitos da infância, como promotores, juízes, conselheiros tutelares, delegados e representantes de ONGs.Durante 29 dias, duas equipes de reportagem visitaram 17 municípios em quatro regiões brasileiras, além do Distrito Federal.Ao todo, foram 15 mil quilômetros percorridos de avião, carro, ônibus e barco.

O acolhimento é longe do ideal tanto nas capitais como nos grotões do país.Sem
a atenção que as faça recuperar a auto-estima e os planos para o futuro, as vítimas
tornam-se pessoas inseguras, agressivas, propensas a vícios e com dificuldades de
manter relacionamentos.Nas confidências de quem viveu a agressão e nos relatos
dos especialistas,o mesmo tom de abandono.Em todos os locais visitados, há falhas
desde a apuração da denúncia até a responsabilização do agressor.

Pela filosofia do ECA, as vítimas seriam amparadas por uma rede de proteção assim que as situações de abuso ou exploração sexual fossem descobertas. Esse atendimento deveria incluir assistência médica, psicológica, social e jurídica.As crianças teriam direito ainda a uma atenção especial no ambiente escolar, para que não fossem discriminadas, nem tivessem a educação prejudicada. Mas, na prática,o que se vê é um jogo de empurra entre as autoridades e instituições.De um ponto da rede para o outro, as crianças passam por inúmeros “encaminhamentos”, sem que ninguém assuma efetivamente a responsabilidade pelo tratamento garantido em lei.Abaixo, um fluxograma mostra o esquema ideal de atendimento de acordo com a legislação.Nas páginas seguintes,uma representação gráfica vai identificar em que momento ocorre a falha na assistência a meninos e meninas atingidos pela violência sexual.

Em respeito ao ECA,todos os nomes de crianças,adolescentes e respectivos parentes citados no caderno são fictícios.

MURAL COLETIVO EM MOVIMENTO

Durante o dia 26/11/2008, na Sede do CRP-SP os militantes do Forum EStadual de Defesa dos Direitos da Crainaç e do ADolescente estarão num intenso debate, refletindo sobre as suas lutas, as conquistas e desafios.

Estaremos reunindo vozes e memórias, com o objetivo de fortalecer este coletivo. Assim, convidamos todos os militantes ao compor o "MURAL COLETIVO EM MOVIMENTO".

A proposta é colher materiais durante o dia e ir compondo os fragmentos desta luta, num movimento simbólico de partilha e de composição coletiva. Um ato que simbolize que por vezes há divergencias, necessárias, mas que nos fortaleça em torno da causa: Criança e Adolescente - Prioridade Absoluta.

Como participar: traga no dia 26/11 fotos, reportagens, folderes, panfletos, camisetas, botons, etc.
Coordenação: Aurea Fuziwara, Cress-SP
Valéria Princz - SinPsi

AGU está juridicamente obrigada a processar militares acusados de crime

Escrito por Gabriel Brito
15-Nov-2008

Ainda à espera de posições firmes e definitivas do Estado brasileiro, as discussões em torno da Lei de Anistia e sua respectiva interpretação ganharam novos ingredientes nos últimos tempos. A AGU (Advocacia Geral da União), em ato contestado por diversos setores do judiciário nacional, resolveu assumir a defesa dos militares Carlos Alberto Brilhante Ustra e Audir Costa Maciel, este último já falecido. Além disso, é crescente a pressão de parte da sociedade brasileira no sentido de exigir do governo e do judiciário pareceres sobre a abertura dos arquivos e da interpretação dos crimes cometidos pelos militares.

Para analisar tais questões, o Correio da Cidadania conversou com o Procurador do estado de São Paulo Damião Trindade, agraciado em 2008 com o Prêmio Nacional de Direitos Humanos "João Canuto", entregue pelo Movimento Humanos Direitos. Para sustentar a posição de que os crimes perpetrados pela ditadura são imprescritíveis, Damião enumera as diversas convenções às quais, desde 1914 em Haia, o Brasil tem se submetido, o que por si já impediria o país, nos marcos do direito internacional, de não julgar tais crimes na condição de lesa-humanidade.

Quanto à defesa dos militares oferecida pela AGU, Trindade, autor do livro ‘História Social dos Direitos Humanos’, considera tal caso "assombroso", pois a "União estaria juridicamente obrigada a ingressar diretamente com ações contra os agentes criminosos identificados, para compeli-los a repor ao erário esses valores que, por culpa deles, está sendo obrigada a desembolsar como indenizações aos sobreviventes e às famílias dos mortos e desaparecidos".

Correio da Cidadania: Como você avalia as propostas de revisão da anistia aos agentes do Estado que cometeram crimes, como a tortura e execução a sangue frio de presos e resistentes durante a ditadura militar?

Damião Trindade: Não se trata propriamente de rever a anistia desses agentes criminosos do Estado. Tanto a lei 6.683/1979 (lei da anistia), como o artigo 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal de 1988 (que ampliou a anistia) e a Lei 10.599/02 (que regulamentou esse dispositivo constitucional) anistiaram apenas crimes políticos, os crimes a eles conexos e crimes eleitorais. Mas, quando agentes do Estado seqüestravam pessoas, torturavam-nas no interior de repartições públicas, matavam-nas, muitas vezes ocultando seus cadáveres, não se trata mais de crimes políticos nem conexos, e muito menos eleitorais, e sim de crimes de lesa-humanidade, cometidos à margem da legalidade criada pela própria ditadura, pois nenhum dos governantes da ditadura jamais emitiu qualquer decreto-lei "autorizando" torturas, homicídios ou desaparecimentos forçados. Mesmo se existisse alguma norma com esse conteúdo, seria completamente ilegal à luz do Direito Internacional Público, ao qual o Brasil se submete.

CC: Como o Direito Internacional se aplica nessas situações?

DT: No terreno específico da garantia da vida e da incolumidade de pessoas presas, o Brasil aderiu aos comandos emanados do direito internacional já em 1914, quando ratificou a Convenção de Haia sobre o respeito aos princípios humanitários e às chamadas "leis da humanidade" durante as guerras, com a obrigatoriedade de preservação da vida e da integridade de prisioneiros. Depois, em 1945, o Brasil subscreveu carta de criação da ONU, documento fundado na busca da paz e na defesa dos direitos fundamentais da pessoa humana – a começar pela vida e pela integridade física.

Além disso, naquela mesma época o direito internacional engendrava a figura penal dos "crimes de lesa-humanidade", que foi definida no estatuto do Tribunal de Nuremberg (confirmado pela ONU em 1946). Logo em seguida, essa modalidade criminal foi também acolhida pelas Convenções de Genebra (1949) e pela Convenção contra o Genocídio. Mais tarde, as convenções contra a tortura e contra desaparecimentos forçados, assim como o Estatuto de Roma, pelo qual foi criado o Tribunal Penal Internacional, reiteraram integralmente aqueles conceitos jurídicos desenvolvidos nos pactos celebrados no imediato pós-Segunda Guerra Mundial.

Todos os documentos que mencionei até agora foram subscritos pelo Estado brasileiro. Assim, desde 1946, para dizer o mínimo, as figuras dos crimes de lesa-humanidade já ingressaram no ordenamento jurídico brasileiro vindas do direito internacional – portanto, já eram normas com plena eficácia jurídica quando houve o golpe militar de 1964. Parece que os ditadores "se esqueceram" disso, ou não acreditaram que aqueles documentos pudessem ser levados a sério. Mas firmou-se por completo o entendimento nos tribunais internacionais de que torturas, assassinatos e desaparecimentos forçados de prisioneiros, cometidos por agentes públicos durante ditaduras, são, sim, crimes de lesa-humanidade.

Por fim, a Corte Interamericana de Direitos Humanos já decidiu que tal tipo de crime não é passível de anistia, seja por leis produzidas pelas próprias ditaduras – a chamada "auto-anistia", como é a nossa lei de 1979 – seja por leis posteriores a elas, pois se considera que tais crimes afetam não só suas vítimas diretas, mas a própria humanidade em si. Logo, o perdão ou "esquecimento" não pode, juridicamente, ser operado pela legislação interna de nenhum país. Esses crimes, conforme a jurisprudência dos tribunais internacionais, são imprescritíveis, não importa o tempo que passe. Sua punibilidade penal só se extingue com a morte dos agentes que os cometeram.

CC: O que pensa a respeito de a AGU, Advocacia Geral da União - ou seja, o Estado brasileiro -, considerar os militares processados por seus atos no antigo regime como beneficiários da lei de anistia e assumir suas defesas? Não é uma flagrante contradição dentro de um Estado que, em tese, repudia e condena tal período da história?

DT: Esse caso é espantoso, pois nem se trata de persecução penal de agentes da ditadura. O Congresso Nacional editou a mencionada lei 10.559/02 que, dentre outras matérias, obrigou o Estado a indenizar as vítimas ou seus familiares pelos crimes cometidos por agentes públicos durante a ditadura. Em decorrência, o Estado vem indenizando os sobreviventes e as famílias dos mortos e desaparecidos, isto é, vem reconhecendo, nesses casos bem documentados, que o Estado tolerou condutas criminosas de seus agentes, condutas que estão agora gerando efeitos financeiros contra o próprio Estado. Esse dinheiro das indenizações saiu e continua a sair do erário.

A rigor, a União estaria juridicamente obrigada, ela mesma, a ingressar diretamente com ações contra os agentes criminosos identificados, para compeli-los a repor ao erário esses valores que, por culpa deles, está sendo obrigado a desembolsar. Esse tipo de procedimento ocorre todos os dias na administração pública. Por exemplo: uma ambulância pública bate num carro particular. O dono do veículo privado demanda indenização do Estado pelos danos sofridos. Se o acidente ocorreu por culpa do condutor do veículo oficial – por exemplo, se avançou no cruzamento enquanto o semáforo estava vermelho –, ele terá de ressarcir as despesas com que o Estado arcou para reparar os danos tanto da viatura oficial, como do carro particular. Se não aceitar ressarcir amigavelmente, a administração pública tem o poder-dever de ajuizar uma ação contra ele para ressarcir-se.

Isso, repito, acontece todos os dias. Por que o governo federal não aplicou o mesmo critério no caso das indenizações políticas? Por que a própria União não processou os agentes da ditadura para que ressarcissem ao erário as despesas com as indenizações pagas? Pois foi necessário o Ministério Público Federal tomar tal iniciativa, na defesa do patrimônio público. O MP federal ajuizou uma ação contra dois ex-comandantes do DOI-CODI de São Paulo, para responsabilizá-los financeiramente (não penalmente) por cerca de 60 indenizações pagas pela União relativas a mortos e desaparecidos naquele centro de horrores durante o período em que aqueles dois militares o dirigiram. Ou seja: a ação é em defesa do patrimônio da União.

Os réus são os dois militares, não a União. Chamada a pronunciar-se no processo, a União, representada por sua Advocacia Geral, deveria ter endossado a iniciativa do MP. Mas, para assombro e estarrecimento dos próprios meios jurídicos do país, a AGU defendeu os réus! Colocou-se contra o próprio interesse patrimonial da União! Mas, como a AGU deve representar a vontade da União, agora a decisão se desloca para as mãos do presidente da República. Ele deve dizer com todas as letras à nação qual deve ser a vontade que a AGU deverá representar em juízo. Com um simples comunicado interno, ele pode determinar a mudança de posição da AGU. Há inteira base jurídica e processual para isso. A menos que não queira fazê-lo, o que seria horrível, uma capitulação política completa!

CC: Membros mais destacados do governo já se posicionaram contra tal posição da AGU. Desta forma, de onde viria a influência para a defesa dos acusados em questão? Fatos como esse não seriam, ademais, o preço a pagar em função de não se ter limpado dos quadros do poder – nas áreas política, administrativa e jurídica – pessoas fortemente ligadas ao regime antigo?

DT: A vacilação governamental até em determinar que a AGU assuma o pólo da defesa do ressarcimento do erário é algo sério. Não adianta superestimar fantasmas como "pressão militar", claro que ela ainda deve existir. Mas, se for esse o caso, até quando o governo eleito para defender o patrimônio do Estado e a própria democracia postergará o enfrentamento desse problema?

CC: Ao lado da falta de vontade política, por que o Brasil, signatário de múltiplas convenções que condenam imprescritivelmente os crimes da ditadura, conforme destacado acima, é vagaroso na solução dessas antigas feridas, incluindo-se nisso a abertura dos arquivos?

DT: Porque falta uma decisiva mobilização social para obrigar os governantes a honrarem os compromissos internacionalmente assumidos pelo país e os próprios compromissos que esses governantes assumiram com o povo de defender a ordem democrática.

CC: Por que, ademais, o país apresenta uma dificuldade maior que seus vizinhos de passado semelhante em ir além das reparações às famílias afetadas?

DT: Nos países vizinhos do Cone Sul, a pressão social foi certamente maior, até porque lá os mortos das ditaduras contaram-se às dezenas de milhares. E também porque nesses países não se desenvolveu, ao menos não com a força socialmente anestesiante que ganhou por aqui, um certo modo de dominação ideológica, historicamente produzido por nossas classes dominantes, que a grande mídia reproduz sistematicamente, que mistura hipocrisia, cinismo e covardia, expressando-se em máximas tais como "é melhor não mexer no passado", "vamos deixar as coisas como estão", "vamos olhar para o futuro"...

Essa idolatria do medo, essa postura omissa do "não quero me comprometer", à qual a classe média brasileira tornou-se muito receptiva, cumpre o papel de amortecer a indignação social. E também não se deve subestimar que uma fração imensa dessa classe média é politicamente reacionária mesmo, egoísta e fútil, sem nenhuma sensibilidade em relação ao drama social, apoiou a ditadura e apoiaria qualquer governo, mesmo abertamente fascista, que assegurasse a ela condições para continuar comprando roupas da moda e trocar de carro ano sim, ano não.

CC: O momento não pede por uma entrada definitiva, e consequentemente uma solução, por parte do judiciário brasileiro em relação a como tratar os crimes cometidos pela ditadura?

DT: Temo pela posição que o Supremo Tribunal Federal possa vir a adotar nesse assunto. A julgar por declarações de seu atual presidente e de alguns outros integrantes daquela corte, há uma vertente interna que quer mesmo "colocar uma pedra sobre o passado", o que conduziria o Estado brasileiro a uma situação de vexame mundial. O Tribunal Interamericano de Direitos Humanos e a Corte Internacional de Haia certamente condenariam o país por essa omissão. Isso já aconteceu com os nossos países vizinhos. Argentina, Chile e Uruguai passaram a julgar mais frequentemente os homicidas e torturadores de suas ditaduras depois que seus militares começaram a ser condenados em cortes internacionais. As entidades brasileiras de Direitos Humanos já estão se preparando para bater às portas dos tribunais internacionais, caso se confirme a omissão/cumplicidade do Estado brasileiro em relação aos agentes criminosos da ditadura.

CC: O ministro do Supremo Gilmar Mendes chegou a declarar que também seriam imprescritíveis os crimes de "terrorismo" político, praticados pelos opositores do regime, assim como o são os crimes cometidos pelos agentes de Estado no período. O que você responderia a essa afirmação?

DT: Primeiro, "terrorista" foi a ditadura militar, que derrubou um presidente eleito, jogou a Constituição na lata do lixo e perpetrou durante 21 anos crimes bárbaros contra nosso povo. Os agentes da ditadura foram estupradores de mulheres presas, torturadores de pessoas amarradas em cadeiras, assassinos que ocultaram os cadáveres de suas vítimas. Beira o desrespeitoso chamar de "terroristas" os brasileiros e brasileiras que resistiram ao terror praticado pela ditadura. Isso é posicionamento exclusivamente ideológico.

Em segundo lugar, os que lutaram contra a ditadura nada têm a temer, nada a esconder, nada a negar. Não negam sua luta, orgulham-se dela, ao contrário dos agentes que operavam nas sombras dos centros de tortura e morte da ditadura e hoje negam covardemente o que fizeram! Não conseguiriam mesmo assumir sua própria vergonha – imaginem a dor de seus filhos e netos se descobrirem ou confirmarem que foram gerados por torturadores, estupradores, homicidas, ocultadores de cadáveres e escondedores de arquivos!

Em terceiro lugar, os que combateram a ditadura e dela escaparam com vida já "pagaram" por sua conduta digna, e pagaram duramente, com tortura e prisão, com ou sem condenações naquelas auditorias militares dos anos de chumbo. Para que as feridas possam efetivamente se fechar, o país precisa oferecer aos criminosos da ditadura exatamente o que eles negaram às suas vítimas: acusações penais justas, isto é, não baseadas em provas extorquidas sob tortura, com garantia de amplo direito de defesa, o devido processo legal assegurado e, por fim, sentenças judiciais com direito a todos os recursos previstos na lei processual. Enquanto isso não acontecer, estaremos "fazendo de conta" que aqueles crimes também não aconteceram, o que, além de por si mesmo abominável, é um estímulo imenso, renovado todos os dias, para que as detenções extrajudiciais, a tortura dos presos pobres e seu assassinato se reproduzam nos dias de hoje.

A impunidade dos criminosos da ditadura funciona como uma espécie de "garantia" de impunidade para a violência policial de hoje. Isso já foi até academicamente demonstrado. Mas essa classe média egoísta e infantilizada pelo consumismo nem se dá ao trabalho de buscar entender por que, além dos pobres, também ela própria já começa a ser atingida.

CC: As forças armadas, que até hoje não se desculparam por seus atos de então, ao não renegarem o período em discussão, não se revelam ainda dominadas por alguns dos mesmos valores e conceitos de então?

DT: Enquanto não abrirem todos os arquivos daquele período vergonhoso, enquanto não localizarem e entregarem as ossadas dos desaparecidos, enquanto não se desvencilharem completamente, por atos e palavras, dos laços antigos com a ditadura militar e de todas as suas simbologias, nossas forças armadas conservarão sobre si a sombra dessa suspeita. Essa suspeita ficará pairando até sobre as cabeças dos democratas que devem existir no seu interior. O país precisa saber definitivamente se suas forças armadas aceitaram tornar-se incondicionalmente fiéis ao Estado de Direito.

Fonte: Correio da Cidadania